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quinta-feira, 10 de novembro de 2022

Parte 3: Na Martinica | Eugene Davemport, professor do Michigan Agricultural College, contratado por Luiz Vicente de Souza Queiroz para assessorá-lo na concepção e na implantação da Escola Agrícola Prática de Piracicaba em 1891

NA MARTINICA 


Nossa próxima parada foi na Martinica. Lá fica o Monte Pelle, à esquerda, quieto como qualquer outra montanha, não dando indicação alguma de sua intenção de entrar em erupção, como aconteceu em 1902, erupção aquela que praticamente destruiu a cidade a seus pés, matando aproximadamente 10.000 pessoas.

Em agosto, antes da nossa chegada, um furacão tinha atingido a ilha e não restou nenhuma folha verde nas árvores ou vegetação, como nos foi contado. Um barco grande como o nosso foi então arrastado à deriva para a praia e ficou lá, indefeso. Muitos prédios foram destelhados ou tiveram suas fundações arrancadas ou ambos.

Meninos negros nus vieram em suas pequenas canoas para mergulhar atrás de moedas de um cent, as quais os passageiros jogavam na água para vê-los mergulhar. Eles nadavam talvez tão bem quanto mergulhavam, principalmente quando as moedas iam excepcionalmente fundo. Os garotos passavam sob o barco por um dólar, mas não deixavam o serviço. Se por desventura alguma água entrasse em sua canoa eles pulavam, viravam os barcos de cabeça para baixo, tiravam a água, desviravam e subiam de novo, como se nada de mais tivesse acontecido. Eles estavam nas canoas como em suas próprias casas, inclusive eles navegavam com elas mais rápido do que nadavam.

Claro que desembarcamos para visitar a estátua da imperatriz Josefina, primeira esposa de Napoleão. Pobre "crioula", ela teria se saído melhor se tivesse ficado na linda ilha onde nasceu.

Foi no Caribe que nos familiarizamos com duas características impressionantes de velejar nos trópicos. Em primeiro a fosforescência da água, ia além de toda a imaginação. Começava no leme, corria formando rodamoinhos de fogo, fazendo um caminho traçado atrás da embarcação noite adentro.

Outro fenômeno inesperado foi o comportamento de pequenas tempestades. Nós já tínhamos visto o que um furacão podia fazer, mas, por outro lado, podia-se ver pequenas tempestades por todo lado. Uma vez contei 11 à vista ao mesmo tempo, tão pequenas que em muitas delas se ficava fora do alcance simplesmente andando pelo convés do barco.

Também parecia mais claro quando a água estava agitada, passando por uma barreira de corais ou bancos de areia em águas rasas.

Nossa próxima parada foi Barbados, possessão inglesa, dizem que uma das regiões mais densamente povoadas da terra, mais de 1.100 indivíduos por milha quadrada. Dedicada à plantação de cana de açúcar, o valor de suas terras chegam de $400,00 a $600,00 por acre. A cidade do porto é Bridgetown e, como todos esses portos, é alcançada por chatas. Estamos em 18 de outubro, onze dias desde Nova York e nem a metade do caminho para o Rio foi vencida.

Passado o tempestuoso mar do Caribe, tripulação e passageiros passaram a procurar por "Jonas", o pé-frio, que estaria trazendo azar à travessia. Descobrimos que as opiniões sobre quem era "Jonas" estavam divididas entre um padre e nós. Quando soubemos que éramos vistos como um jovem casal em lua de mel, rimos muito e contamos logo celebraríamos nosso décimo aniversario.

Temos vários passageiros interessantes, entre eles J. O. Nebias, um brasileiro em sua viagem para casa, egresso da Universidade da Virginia, onde ele esteve estudando engenharia. Ele é um "Delta Tau Delta", a mesma fraternidade a que pertenço e está nos ajudando com a língua portuguesa, auxílio sempre benvindo, pois viveremos em português de agora em diante, por um tempo.

Há o Sr. Seers, rapaz bastante superior, presumo, ao menos segundo sua própria opinião e esta, me parece ser definitiva. De qualquer forma não confraterniza com ninguém e parece extremamente solitário. No mar, todos conhecem todos, embora ninguém admita que alguma amizade formada se estenda após a viagem.

Há também Albany, chamado assim pelo nome de sua cidade de origem. Ele esta a caminho da Argentina, para vender maquinas colhedeiras.
Está assustadíssimo com a febre amarela e contou outro dia na presença do médico do barco que vai se manter somente com a whisky quando chegar na região da febre. "Bem, se você fizer isso e por ventura pegar a doença, então estará acabado" disse o doutor, o qual suponho que não é adepto de bebidas alcóolicas.

Um outro, do qual esqueci o nome, era um tipo esportivo e perdeu todo seu dinheiro jogando em Newport News, enquanto carregávamos a farinha. Ele foi despojado de tudo, exceto 20 dólares que os outros jogadores devolveram. Ele telegrafou da primeira parada dizendo que foi roubado na embarcação. Mas nisso ele não se lembrou do Capitão Crossman, que não era um homem de brincadeiras e se ressentiu da crítica a seu navio e telegrafou a verdade, o que fez com que o jovem fosse demitido ao chegar ao Rio de Janeiro.

Havia também um fabricante de machados, que estava indo para o Rio criar uma fábrica de machados. Ele disse que perguntavam a ele com frequência por que era tão difícil fazer um bom machado? "Fácil de responder" dizia. "Existem mil maneiras de se fazer um machado ruim e apenas uma de se fazer um machado bom". Uma lição que apliquei para muitas coisas além de machados.

Nós estamos definitivamente nos trópicos, a diferença entre estações absolutamente desapareceram, o Sol nasce no Leste exatamente às seis horas, levanta se diretamente no seu zênite e fica precisamente sobre as nossas cabeças ao meio dia, quando a sombra de um homem mal cobria seus pés. A mudança dos ventos soprados vindos do leste no empurrava constantemente, o que criou um crescente tédio, mas será pior após cruzar o Equador pois eles mudarão ligeiramente para o Sudeste e nos  pegarão mais de frente do que agora.

Estou surpreso com o frescor, especialmente durante a noite, quando se faz necessário um agasalho pesado no convés. Suspeito que essas surpresas aumentarão, pois vamos viver num clima no qual metade do dia se passa com a ausência do sol.

Enjôos tem sido a ocupação principal do nosso grupo, especialemnte a Emma, enquanto que a Mamãe não sofreu nenhum pouco. Papai é ótimo marinheiro e eu fico bem, se estiver fora da parte interna da embarcação, mas ajudar os outros realmente me pega.

Noite passada durante o jantar um passageiro correu para o convés e foi direto ao mancebo onde "chamou o Hugo" e garantiu, enquanto voltava aliviado, "pronto, agora qualquer peixe pode ficar com o meu jantar se quiser; pois para mim basta de enjôo".


REFERÊNCIAS

DAVEMPORT, E. Memórias. [S.l: s.n.], [2017?]. 54 p. (University of Illinois Archives Record Series, 8-1-21; Eugene Davemport Paper Box, 4).


Na semana que continuaremos narraremos os acontecimentos durante o cruzamento da embarcação pela região do Equador até o Rio Amazonas.



quarta-feira, 26 de outubro de 2022

Eugene Davemport, professor do Michigan Agricultural College, contratado por Luiz Vicente de Souza Queiroz para assessorá-lo na concepção e na implantação da Escola Agrícola Prática de Piracicaba em 1891 | Parte 2: Eugene Davenport

 

Brasil em meados de 1900.


Eugene Davenport

Eugene Davenport nasceu em 1856 em Michigan, numa fazenda de produção de madeira que administrou e onde passou a maior parte de sua vida.

Filho de uma família de princípios rígidos, ele foi sempre respeitado por sua probidade, senso de justiça, e repetia sempre a afirmação de sua mãe de que "é preciso agir corretamente, porque é certo fazer aquilo que é certo"

Acadêmico do "Michigan Agricultural College", ele trabalhou duro, pelo menos três horas diárias na fazenda da faculdade da qual, tanto que após formar-se, foi escolhido como superintendente da mesma e contratado também como professor de sua antiga escola, onde lecionou por sete anos na cadeira de agricultura prática.

Em 1891, convidado por Luiz de Queiroz para colaborar na criação e posterior direção de uma escola de Agricultura, para a qual tinha adquirido em leilão a fazenda "São João da Montanha", Eugene Davenport viaja para o Brasil acompanhado por seus pais e por sua esposa, Emma. Seu transporte é um navio que para em vários portos do Caribe, oportunidade para o viajante registrar suas primeiras impressões sobre Belém, Pernambuco, Salvador, Rio de Janeiro e, posteriormente, seu caminho se estende a São Paulo e finalmente a Piracicaba.

De volta em abril de 1892, aproveita para visitar a Inglaterra e o Alasca, e em 1895 assume a posição de deão do "College of Agriculture" da Universidade de Illinois, cargo que acumula com o de diretor da Estação Experimental de Agricultura.

A obra de Davenport inclui uma autobiografia "Son of the Timberlands", publicada em 1925 pela "Country Gentleman" e uma coluna no "Prairie Farmer'.

Davenport é lembrado pelo seu trabalho no desenvolvimento da pesquisa científica na Faculdade de Agricultura, mas o que lhe deu maior satisfação foi o reconhecimento, pelo Estado de Illinois, da Agricultura como uma verdadeira vocação e a conseqùente integração do estudo agrícola no sistema público de ensino. Ele sempre foi um defensor da educação como um preparo efetivo do estudante para o mercado de trabalho.

Apesar do problema de ser quase indecifrável sua escrita à mão, os trabalhos de Davenport sempre externaram idéias muito claras e vívidas sobre variados assuntos, mas principalmente médicos científicos de cultivo e de criação de gado, imigração, reminiscências e filosofia moral.

Davenport foi sempre muito devotado a sua mulher, que também escreveu sobre suas experiências e impressões do Brasil e do Alasca e entre os documentos guardados na biblioteca da "University of Illinois", há um grosso manuscrito autobiográfico chamado "What onde life has seen".

Entre as obras publicadas de Eugene Davenport contam-se "Education for Efficiency', de 1909, "Domesticated Animals and Plants", de 1910, "Vacation on the Trail", de 1923, "The Farm", de 1927 e "Timberland Times*, de 1935. Ele faleceu em 1941.

Arquivos da Universidade de Illinois. series gravadas 1 de agosto de 1921, papeis de Eugéne Davemport, caixa 4.


Vamos ao Brasil

O assunto veio à tona acho que em agosto, ficou acertado em setembro e em 15 de outubro de 1891 nosso pequeno grupo de quatro: Papai, Mamãe, Emma e eu, pegamos um trem de Woodland com destino aos trópicos. Em 17 de outubro, no "Advance", uma boa embarcação sob comando do capitão Crossman, soltamos velas em de Nova York.

O "Advance" era um navio pequeno, 2.600 toneladas, 325 pés de comprimento, extremamente digno de confiança no mar, como os eventos posteriores viriam a provar. Simples, mas confortável, e extremamente bem comandado, tudo que se podia desejar para uma viagem que duraria um mês inteiro, cobrindo 5.000 milhas de Nova York ao Rio de Janeiro.

A nau levou 20 passageiros, incluindo a filha do Capitão que se provou ser uma jovem encantadora.


A viagem

Leve como estava o navio no início, aportamos em Newport News para embarcar 10.000 barris de farinha que se constituíram em excelente lastro. Na primeira noite balançamos para lá e para cá um bocado, mas a farinha estabilizou a linha d'água aproximadamente quatro pés mais baixo, o que ajudou a velejar com extrema qualidade.

Passando por Hatteras, notei o Capitão parado e tenso a estibordo da nau, examinando uma linha baixa de nuvens em alto mar. "Mau tempo daquele lado, Capitão?" , perguntei. "Vamos ter e muito, antes do amanhecer" disse ele, e a afirmação provou ser uma excelente profecia. O navio balançava forte, pondo todos os passageiros na lista de mareados, até mesmo dentro das cabines. E quando o leme saiu fora d'água, chacoalhou toda a parte da popa e quando atingiu a água novamente, elevou violentamente tudo e todos. Tínhamos sido atingidos pelo furacão West Índia.

Tínhamos lido sobre ondas da altura de montanhas e vimos quadros de ondas grandes se curvando sobre barcos, mas ambos são absurdos e inverdades. Ondas não atingem alturas de montanhas e o único lugar que elas fazem uma grande curvatura é na praia, quando a parte debaixo da onda atinge o fundo, em águas rasas.

Em uma tempestade forte o oceano parece ser um país montanhoso, exceto que as colinas estão em movimento e geralmente com uma enorme, profunda depressão entre elas. Depois de dois ou três dias de ventos, as águas transformaram-se em longas series de vagalhões, três ou mais em uma milha.

No seu estágio inicial de ventos fortes a embarcação mergulhava das cristas às profundezas, conforme o casco descia arremessando com frequência algumas toneladas de água para cima. Eu cheguei a ver grandes massas de água desprender-se e passar por cima da embarcação, para cair no mar a alguma distancia atrás da popa.

Mesmo em águas turbulentas ou entre vagalhões, a embarcação deve se manter razoavelmente fora da base das ondas ou será despedaçada por toneladas de água que cada onda traz com forte impacto.

Nossa primeira parada foi em Saint Tomas, onde 500 toneladas de carvão foram embarcadas nas cabeças de homens e mulheres negros, 80 libras-peso cada cesto, por cada um dos quais eles recebiam um centavo inglês. Estava escuro e a doca era iluminada por carvão acondicionado em cestos de ferro, dando um tipo de brilho bruxuleante e lúgubre, como se tivéssemos entrado em regiões do Inferno.


REFERÊNCIAS

DAVEMPORT, E. Memórias. [S.l: s.n.], [2017?]. 54 p. (University of Illinois Archives Record Series, 8-1-21; Eugene Davemport Paper Box, 4).


Na semana que continuaremos narrando a viagem ao Brasil para colaborar na criação e direção de uma escola de agricultura na Fazenda São João da Montanha. 


quarta-feira, 19 de outubro de 2022

Memórias: Eugene Davemport, professor do Michigan Agricultural College, contratado por Luiz Vicente de Souza Queiroz para assessorá-lo na concepção e na implantação da Escola Agrícola Prática de Piracicaba em 1891 | Parte 1: 120 anos depois

120 ANOS DEPOIS




Eugéne Davenport (1856-1941), professor de Agronomia norte-americano, foi o último dos visitantes estrangeiros do século XIX a produzir um livro de memórias sobre o imenso País que tanta curiosidade despertava no mundo "civilizado". Curiosidade tamanha, que ele critica sem rebuços os professores que, na Universidade, falavam sobre o Brasil sem jamais terem pisado seu solo ou que escreviam depoimentos imaginados nos quais começavam explicando que no País se falava espanhol.

O depoimento de Davenport, porém, escrito na forma de um diário e complementado anos mais tarde (em 1936, quando ele completara 80 anos), ficou inédito e está conservado nos arquivos da biblioteca do campus de "Urbana-Champaign" da "University of Illinois". Tudo indica que ele o escreveu na forma de um diário, pois há muitas referências a "aqui", citações sobre "este País", e o complementou mais tarde, provavelmente prevendo publicar um livro que acabou nunca sendo editado.

Casado com Emma Davenport, que também escreveu um texto inédito sobre o que encontrou no tão estranho País tropical, Davenport foi convidado por Luiz Vicente de Souza Queiroz a vir ao Brasil em 1891, para colaborar na construção e para posteriormente dirigir o que viria a ser um dia a "Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz", hoje integrada à Universidade de São Paulo.

Quando, porém, as forças políticas adversas, principalmente os escravagistas, sempre foram críticos e inimigos do abolicionista radical Luiz de Queiroz, tornaram inviável a construção da escola, e o mecenas exauriu todos os imensos recursos que tinha sem conseguir terminar a tarefa, Davenport regressou com a família aos Estados Unidos.

É pobre o testemunho de Davenport a respeito da construção da "Esalq", que na realidade só seria inaugurada anos depois de sua volta aos Estados Unidos.

O que torna o depoimento ímpar e valioso é a descrição detalhada de costumes, a visão sociológica do professor, registrando fatos do dia a dia que escaparam ou talvez não tenham chegado ao conhecimento dos viajantes que o antecederam e seu testemunho de que os graves defeitos do brasileiro que ainda hoje são tão criticados, tem origem histórica, já eram os mesmos há mais de um século.

A descrição da chegada de uma carroça com eixo moderno ao Brasil e a recusa terminante do lavrador negro liberto de experimentar a engenhoca, pois o feiticeiro da fazenda garantia que o equipamento estava amaldiçoado, pois não fazia o gemido típico dos carros de boi, nos coloca diante de um matiz desconhecido do relacionamento entre patrão e empregado no Brasil rural de então e, mais importante, mostra a desistência acomodatícia de Luiz de Queiroz o qual, diante da recusa do trabalhador, simplesmente desiste de mostrar os predicados da máquina.

Foi tão pungente a experiência de Davenport no Brasil em todos os sentidos que, ao revisar seu texto, já entrado em anos, escreveu que o que mais gostaria naquele momento, no seu então gelado e nevado Michigan, seria ter diante de si "uma panela cheinha de jaboticabas", aquela frutinha que aprendeu ser mais saborosa quando, despindo-se de seus sóbrios pruridos anglo-saxônicos, ele comia trepado na árvore calças arregaçadas, cuspindo os caroços para longe, voltando à infância num repente, transformado num Tom Sawyer redivivo, ou melhor, deixando aflorar a personalidade de um insuspeitado curumin tupiniquim. E essa saudade da jaboticaba, uma marca brasileira na alma do professor, o perseguiu pela vida afora, pois então já maduro, em pleno século XX, ele revia o texto rascunhado em 1891/92, quando tinha 35 anos, e que entregaria à guarda da Universidade 40 anos depois, em 1921.

É curioso notar como as frutas tropicais marcaram indelevelmente os estrangeiros que nos visitaram. Também o antropologista Levy Strauss, que desembarcou em São Paulo 50 anos depois de ter deixado a cidade onde ajudara a criar a Universidade de São Paulo pediu a mim, que fazia as vezes de cicerone que, antes de visitarmos a USP, passasse pela rua Cincinatô Brragá, dizia ele, para ver na casinha que alugou no início do século e onde se reunia com os demais integrantes da "Missão Francesa", Fernand Braudel, Roger Bastide, Paul Arbousse e Pierre Monbeig. O motivo, queria rever e talvez provar do fruto de certo "pé de carrambolá, que ainda dá saudade"

O pai do estruturalismo não conseguiu rever suas carambolas nem o sobradinho onde rascunhou os "Tristes Trópicos". Primeiro, assustou-se com o imenso congestionamento que encontrou na avenida Paulista, e depois não achou uma casa que fosse no quarteirão onde viveu nos anos em 1935. Pela rua inteira tinham brotado imensos prédios e na mente do cientista social continua crescendo, com a fantasia e o distanciamento, o sabor levemente ácido da carambola, da mesma forma que mais de 40 anos de abstinência certamente melhoraram muito na imaginação de Davenport o néctar que sugava em cada jaboticaba.

Os escritos de Davenport, que voltam à luz 85 anos depois de arquivados e 125 anos após as anotações originais, não perderam, porém, sua vitalidade e nos remetem num átimo à zona rural de Piracicaba, onde um grupo de brasileiros que ainda mantinham nas feições caucasianas os sinais do sangue índio de seus avós, como Davenport repara e registra no próprio Luiz de Queiroz, começavam mais que desbravar, a tentar construir um Brasil melhor, moderno e, principalmente, mais justo para seus habitantes. É uma missão que Luiz de Queiroz legou às novas gerações e que, na mesma fazenda onde, de "trolley", chegou um dia o professor americano extasiado diante dos trópicos, os seguidores do pioneiro continuam sua obra redentora.

Luiz Roberto de Souza Queiroz


REFERÊNCIAS

DAVEMPORT, E. Memórias. [S.l: s.n.], [2017?]. 54 p. (University of Illinois Archives Record Series, 8-1-21; Eugene Davemport Paper Box, 4).


Na semana que vem falaremos sobre o convite de Luiz de Queiroz a Eugene Davenport para colaborar na criação e direção de uma escola de agricultura na Fazenda São João da Montanha. 


quinta-feira, 22 de setembro de 2022

CLIPPING! Portais de Pesquisa de A-Z


 

Você conhece a lista de 271 Bases de Dados disponíveis na USP?

Dentre tantas opções destacamos abaixo links que indexam publicações abertas ou restritas em CIÊNCIAS BIOLÓGICAS e áreas afins!

Mas... ATENÇÃO!

Para acessar os portais restritos é preciso conectar-se à rede EDUROAM USP ou utilizar a conexão remota via VPN USP.

Quer descobrir um novo mundo? Comece por aqui.

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Annual Reviews – Coleção de Periódicos

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BASE – Bielefeld Academic Search Engine

Biblioteca Digital de Teses e Dissertações – BDTD Brasil

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BioEd Online

Bioline International

BioOne

Botanicus Digital Library

CAB Abstract (CABI) | CAB Direct – CABI

Crop Protection Compendium (CABI Publishing)

DOAB: Directory of Open Access Books

DOAJ – Directory of Open Access Journals

Ecological Society of America (ESA)

Energy Citation Database

Forestry Compendium

GeoScienceWorld

Invasive Species Compendium (CABI Publishing)

Issues in Environmental Science and Technology (RSC)

JSTOR – Ecology and Botany I | JSTOR – Ecology and Botany II | JSTOR – Life Sciences

JSTOR – Global Plants

Mary Ann Liebert

National Geographic

OASIS IBICT

Oxford Journals – Coleção de Periódicos

Pearson Biblioteca Virtual

Portal de Busca Integrada USP

Portal de Livros Abertos da USP

Portal de Periódicos Capes

Portal de Revistas da USP

PubMed (Medline)

PubMed Central

SciELO Periódicos

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ScienceDirect E-books All Access

Scopus

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Taylor & Francis

Wageningen Academic Press (WAP) – Coleção de eBooks

Web of Science

Wiley Online Library – Coleção de Periódicos

Zoological Record

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Precisa de apoio? Pergunte à Bibliotecária: referencia.esalq@usp.br


Renascer solidário


Junte-se a nós na Campanha: “Renascer Solidário” para arrecadarmos brinquedos novos e usados em bom estado a serem doados às crianças da Comunidade Renascer, do bairro Jardim Nova Suíça, em Piracicaba.

É possível realizar doações em dinheiro, via PIX, na conta da representante do ENACTUS, Maria Eduarda Alcantara (Chave  PIX: duda.2012@hotmail.com).

As arrecadações ocorrerão entre os dias 19/09 e 10/10, nos pontos de coleta dentro do campus: Prédio da Engenharia, Bloco da Economia, Biblioteca Central, Central de Aulas, RUCAS, Divisão de Atendimento à Comunidade (DVATCOM), Casa do Estudante Universitário (CEU) e ADEALQ.

Na comunidade há cerca de 400 crianças, com faixa etária predominante de 5 a 10 anos, que receberão jogos didáticos, bolas, bonecas, materiais de cozinha de brinquedo, etc.

A entrega será realizada na Comunidade pelos grupos de extensão no dia 15/10, na semana do Dia das Crianças.

Contamos com a Comunidade Esalqueana para fazer renascer a solidariedade neste Dia das Crianças!

A Divisão de Biblioteca da ESALQ apoia esta causa!


Ligiana Clemente do Carmo Damiano

Responsabilidade Social DIBD

sexta-feira, 9 de setembro de 2022

Casa Branca diz que trabalhos de pesquisa financiados pelo governo devem ter acesso aberto a partir de 2026




Tradução livre do artigo "White House says federally-funded research papers must be open access from 2026".


A Casa Branca anunciou uma grande mudança de política pela qual todas as publicações resultantes de pesquisas financiadas pelo governo federal e seus dados de apoio devem ser disponibilizados imediatamente e gratuitamente a todos. Houve uma reação de muitos editores científicos, que precisarão implementar a controversa nova diretiva até o final de 2025.

Sob a nova regra do governo Biden, agências de pesquisa dos EUA, como a National Science Foundation (NSF) e o National Institutes of Health (NIH), terão que atualizar suas políticas de acesso público o mais rápido possível e até 31 de dezembro de 2025. Eles devem disponibilizar publicamente os trabalhos de pesquisa de seus bolsistas sem o atual período de embargo de 12 meses que está em vigor desde 2013.

Em seu memorando aos chefes de departamentos e agências executivas dos EUA, o Escritório de Política Científica e Tecnológica da Casa Branca (OSTP) argumentou que o embargo de 12 meses restringiu o acesso imediato aos resultados de pesquisas apoiados com dólares dos contribuintes apenas àqueles que podem pagar por ou que tenham acesso privilegiado através de bibliotecas ou outras instituições.

“Esta orientação política encerrará o atual embargo opcional que permite que editores científicos coloquem pesquisas financiadas por contribuintes atrás de um paywall baseado em assinatura – o que pode bloquear o acesso de inovadores para quem o paywall é uma barreira, até mesmo impedindo o acesso de cientistas e suas instituições acadêmicas. aos seus próprios resultados de pesquisa', afirmou o OSTP . A diretora do escritório, Alondra Nelson, disse que os contribuintes americanos financiam dezenas de bilhões de dólares em pesquisas de ponta anualmente e merecem ver os retornos de seus investimentos.

Uma ordem executiva semelhante circulou na Casa Branca de Trump no final de 2019, mas as partes interessadas, incluindo editores de periódicos, se opuseram publicamente a uma versão vazada antes de ser lançada. A nova diretiva Biden também exige que as agências desenvolvam planos para melhorar a transparência da pesquisa que financiam, incluindo a divulgação clara de autoria, financiamento e afiliações. A OSTP trabalhará com as agências para atualizar seus planos de acesso público e compartilhamento de dados até meados de 2023.

O NIH e a NSF apoiam o anúncio da Casa Branca. "Estamos entusiasmados em avançar nesses importantes esforços para tornar os resultados da pesquisa mais acessíveis e esperamos trabalhar juntos para fortalecer nossa responsabilidade compartilhada em tornar os resultados da pesquisa financiados pelo governo federal acessíveis ao público", afirmou o diretor interino do NIH, Lawrence Tabak . Ele disse que a agência desenvolverá e compartilhará seus planos para implementar a nova orientação nos próximos meses.


Um 'momento histórico'

Um porta-voz da NSF disse que o aumento do acesso público a pesquisas e dados financiados pelo governo federal “ajudará a impulsionar a descoberta e a inovação e promover a equidade”. A NSF pretende atualizar seu plano de acesso público até o final de fevereiro de 2023 e implementá-lo até dezembro de 2024.

Universidades de pesquisa e bibliotecas nos EUA também estão entusiasmadas com o plano. Por exemplo, a Association of Research Libraries (ARL) – uma organização sem fins lucrativos de bibliotecas de pesquisa nos EUA e Canadá – saudou o anúncio, chamando-o de “um momento histórico para as comunicações científicas” .

Enquanto isso, a Associação de Universidades Americanas (AAU) disse que sempre foi um 'forte defensor' da disponibilização pública de estudos financiados pelo governo federal, bem como da introdução do período de embargo de 12 meses em 2013 . "O anúncio de hoje pela OSTP representa um importante passo em frente no avanço do acesso público", acrescentou a AAU. O grupo está atualmente revisando o anúncio da Casa Branca para determinar quais implicações específicas ele tem para suas instituições e seus membros do corpo docente.

Sem surpresa, a resposta dos editores foi morna. A Association of American Publishers (AAP), por exemplo, disse que a nova política de acesso aberto de Biden foi anunciada sem consulta suficiente, embora tenha “ramificações abrangentes, incluindo um sério impacto econômico” na indústria editorial.

Shelley Husband, vice-presidente sênior de assuntos governamentais da AAP, destacou que muitos editores tornaram seu processo de publicação mais rápido e eficiente, lançando regularmente novos periódicos e adotando diversos modelos de publicação e acesso para apoiar os pesquisadores.

'Este importante trabalho faz parte de um mercado competitivo voltado para a excelência; é muito diferente do que o governo impõe modelos de negócios', afirmou Husband. Ela se perguntou como os editores, especialmente os pequenos, conseguirão manter a precisão, a qualidade e a produção que o interesse público exige sob o novo esquema do OSTP.


Acompanhando a situação

A American Chemical Society (ACS), que é membro da AAP, também está acompanhando cuidadosamente a situação. James Milne, presidente das publicações da ACS, disse que a nova diretiva de Biden representa “uma mudança significativa na direção das políticas”. A organização, que publica mais de 60 periódicos acadêmicos, está atualmente avaliando os detalhes da orientação da Casa Branca e acompanhando a análise econômica para determinar o impacto potencial em suas atividades de publicação e diretamente nos pesquisadores dos EUA.

"As especificidades das políticas da agência federal que esta orientação impacta ainda não foram determinadas", afirmou Milne. No entanto, ele observou que a ACS já oferece opções de acesso aberto que atendem às necessidades de conformidade de seus autores e implementou rotas para autores que exigem acesso público imediato a seus artigos que relatam pesquisas financiadas pelo governo dos EUA e os dados relacionados a eles.

Além dos EUA, a diretiva Biden também é apoiada pela Coalition S, um consórcio internacional de financiadores no Reino Unido e na Europa que está trabalhando para fornecer publicação de acesso aberto total e imediato.

"Esta nova política dos EUA é um divisor de águas para a publicação acadêmica", afirmou Johan Rooryck, diretor executivo da Coalition S. "Além de sua ênfase no acesso aberto imediato, saudamos o foco na redução das desigualdades na publicação, especialmente entre indivíduos de origens carentes e aqueles que estão no início de suas carreiras", disse ele. 'Uma declaração tão forte, de um país que está liderando em muitas áreas de pesquisa, avançará muito nos esforços para o acesso aberto global.'

A Coalition S disse que planeja trabalhar com a OSTP e outras organizações de pesquisa em todo o mundo para alinhar ainda mais suas políticas para fornecer 'acesso aberto total e imediato aos resultados da pesquisa'.

Mark Histed, um neurocientista que dirige a unidade de computação neural e comportamento do Instituto Nacional de Saúde Mental do NIH, adverte que o diabo está nos detalhes. “Neste momento, alguns periódicos de acesso aberto estão cobrando US$ 5.000 dos autores e há muita gente pagando isso. Eu prevejo que essas taxas vão até $ 10.000 + com esta política ', twittou Histed . 'Grandes editoras acadêmicas já testaram a mudança de sua fonte de renda para taxas de publicação. Essas taxas geralmente vêm de subsídios federais.' A boa notícia, acrescentou, é que os preprints estão em alta. Mas muitos pesquisadores estão preocupados que o ônus de pagar para publicar sob a nova política recairá sobre pesquisadores individuais.

Rachel Borchardt, bibliotecária de comunicações acadêmicas da American University em Washington DC, twittou que a nova orientação solicitará que os manuscritos pós-revisão por pares sejam enviados para um repositório , que é conhecido como acesso aberto 'verde'. Ela observou que existem muitos repositórios gratuitos atualmente, incluindo o PubMed Central, e que sua universidade tem o seu próprio, bem como suporte financiado pela biblioteca para taxas de publicação de acesso aberto.

segunda-feira, 18 de julho de 2022

Sistema inoperante para empréstimos, renovações e reservas nos dias 21 e 22 de julho de 2022

A pedido da ABCD (Agência de Bibliotecas e Coleções Digitais da USP), retificamos a mensagem anterior enviada aos docentes, alunos e pesquisadores do campus sobre indisponibilidade de Sistemas ABCD, em razão de manutenção elétrica no datacenter.

Segundo a ABCD, a empresa responsável por um dos datacenters alterou o cronograma e vai realizar a manutenção de energia elétrica programada nos dias 21 e 22/07/2022

Diante do exposto, informamos que o sistema para empréstimos, renovações e reservas estará inoperante nestes dias. As atividades serão retomadas após o restabelecimento dos sistemas, no próximo sábado (23/07).

Ressaltamos que os vencimentos neste período serão renovados para o dia 25 de julho de 2022, de forma que os usuários não sofram as penalidades previstas por atraso.

sexta-feira, 3 de junho de 2022

Divisão de Biblioteca convida para o lançamento do livro Hidrologia florestal aplicada: planejando as interações entre a floresta e a água




No dia 24 de junho de 2022, sexta-feira, às 16h, a Biblioteca Central da Esalq-USP, promove o coquetel de lançamento do livro Hidrologia florestal aplicada: planejando as interações entre a floresta e a água, dos autores Silvio Ferraz e Walter de Paula Lima, ambos professores do Departamento de Ciências Florestais da USP/ESALQ.

A obra apresenta e discute conceitos modernos sobre o conhecimento atual das relações entre as florestas e a conservação da água, como contribuição para a busca do maior equilíbrio entre a produção e conservação no planejamento de bacias hidrográficas, e como apoio ao aprendizado nos cursos de ciências agrárias e ambientais.

Ao longo de seus doze capítulos, são tratados conceitos fundamentais da hidrologia como o ciclo hidrológico e seus processos constituintes, a bacia hidrográfica como unidade integradora, o comportamento da água no solo e os processos eco-hidrológicos da zona ripária.

Aspectos aplicados de manejo de bacias hidrográficas, como o uso da água pelas florestas e seus serviços hidrológicos, entre outros, também fazem parte da análise, que inclui ainda um histórico das relações entre a floresta e a água e um apêndice com terminologia, unidades e transformações, de grande utilidade para o pesquisador.

Mais informações: https://sites.google.com/usp.br/hidrologia-florestal-aplicada/sobre-a-obra 


Serviço

  • Quando: 24 de junho (sexta-feira), a partir das 16h
  • Local: Biblioteca Central da Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” (Esalq-USP)
  • Avenida Pádua Dias, 11 | Piracicaba-SP

quarta-feira, 23 de março de 2022

Ermelinda Ottoni de Souza Queiroz

 


No artigo "O pioneirismo em Piracicaba" (09/01/2022, p. 4), a escritora Myria Machado Botelho relata recortes da vida de dois pioneiros que, à frente de seu tempo, deixam marcas de empreendedorismo na segunda metade do século XIX (Luiz Vicente de Souza Queiroz) e primeira metade do século XX (Maria Thereza de Moraes Silveira / Dona Therezinha).

Em seu parágrafo final, registra que "Alicerçada sobre forte tradição cultural, Piracicaba abrigou em seu seio numerosos expoentes, cujos nomes se projetaram e que, não sem motivo, a fizeram conhecida como "Atenas Paulista" e "Cidade das Escolas". Neste caso, vem à lembrança Ermelinda Ottoni de Souza Queiroz, esposa de Luiz de Queiroz.

No município, pouquíssimas pessoas ouviram falar de Dona Ermelinda e, mesmo dentro do Campus, poucos tem ciência da participação que exerceu em diversas ações pioneiras e empreendedoras de Luiz de Queiroz.

Na 64ª Semana Luiz de Queiroz (04 a 09/10/2021) ocorreu no dia 04 (2ª feira) a inauguração do Espaço Cultural 'Ermelinda Ottoni de Souza Queiroz', localizado no Jardim Francês, no entorno do Museu e Centro de Ciências, Educação e Artes 'Luiz de Queiroz', com a instalação de um gazebo que acolhe a estátua, em tamanho natural, "personificada em trajes da época e trazendo em suas mãos um missário, pois era uma pessoa muito benemérita e de fé".

Quem foi Ermelinda Ottoni de Souza Queiroz? Alguns lembrarão que foi esposa de Luiz de Queiroz, mas poucos sabem da importância de sua atuação na idealização e instalação da escola, após a morte de Luiz de Queiroz aos 49 anos, em 11/06/1898. A inauguração desta se efetua três anos depois, em 03/06/2001.

Uma busca bibliográfica (Pioneiros e Empreendedores, volume 2/2009, autoria do Prof. Jacques Marcovitch) registra que "Ermelinda, quando jovem, viajou com os pais Cristiano Ottoni e Bárbara de Barros Ottoni pela Europa, Estados Unidos e Ásia. Após seu casamento em 1880 com Luiz de Queiroz, continuou viajando para o exterior para visitar a irmã em Paris... "Ela também se dedicava aos empreendimentos e participava de reuniões de negócios com o marido. Entre seus legados conjuntos com o esposo estão a usina elétrica, a fábrica de tecidos e a Escola". A imprensa local comparava Ermelinda como uma das três mulheres de destaque de Piracicaba, em conjunto à americana Miss Martha Watts e à professora e médica belga Jeanne Renotte". Concluindo: uma mulher culta, poliglota e cosmopolita.

Em aula proferida no Curso de Atualização em Pioneirismo e Educadores Empreendedores / Palácio dos Campos Elíseos - SP, atividade complementar da Exposição Pioneiros & Empreendedores, a Profa. Marly Therezinha G. Perencin, estudiosa da história e memória da ESALQ, relata sobre o importante papel desempenhado por Ermelinda Ottoni de Souza Queiroz na realização do projeto da instituição que se tornaria a ESALQ. "Filha do conselheiro do Império Cristiano Ottoni, era uma figura à frente de seu tempo... Numa época em que as mulheres se escondiam em casa e ficavam dois passos atrás do marido na rua, dona Ermelinda andava lado a lado com o esposo e lhe dava apoio nos negócios, comportamento chocante para a sociedade piracicabana na época... Com um temperamento independente, dedicada aos seus empreendimentos, ela participava de reuniões de negócios com o marido mostrando-se austera, perspicaz e determinada, atributos arrojados perante a época em que viveu".

Fico imaginando como a sociedade patriarcal e conservadora prevalecente em boa parte de sua vida (nascimento em 21/03/1856 e morte em 07/04/1936, 80 anos completos) reagia diante desta decidida, resiliente e empoderada empreendedora, focada no alcance, efetivação e realização dos sonhos de seu marido.

Um parêntese: Os restos mortais do casal foram transladados para a ESALQ em 16/04/1964, estando defronte ao Prédio Central no Mausoléu que registra na lápide "A Luiz Vicente de Souza Queiroz, o Teu Monumento é a Tua Escola".

A expressão "Atrás de um grande homem, sempre tem uma grande mulher" perde sentido quando se conhece a trajetória de vida de Ermelinda Ottoni de Souza Queiroz, podendo-se afirmar que: "Ao lado de um grande homem empreendedor, sempre tem uma grande, empreendedora e empoderada mulher".

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Obs. Publicado na Gazeta de Piracicaba, Ano XIX, n. 4731, 14/01/2022, p.2 (Opinião)


terça-feira, 22 de março de 2022

Biblioteca da Esalq: eu recomendo! - Depoimento do Professor Urgel de Almeida Lima

 


Dina Moretti, primeira bibliotecária de formação a trabalhar na Esalq.

1947! Eu era ingressante, vindo de uma escola de ensino médio que possuía uma biblioteca, mas na qual eu nunca entrara. Ao entrar na ESALQ, a biblioteca se afigurava com imenso depósito de livros que continha misteriosos conhecimentos fora de meu alcance. Mesmo conhecendo o Bibliotecário, Engenheiro Agrônomo Renato Bartholomeu, sempre gentil e prestativo, aquele enorme número de livros me assustava, pois não conseguia saber que benefícios dele tirar.

A biblioteca não atraia minha atenção, que estava voltada totalmente às palavras dos Mestres; eu era taquígrafo, registrava de 85 a 90% do que eles diziam em aula pelas minhas notas eu estudava, diretamente sem tradução. Não me passava à mente, complementar as aulas com material impresso os livros. Havia aulas empolgantes, outras nem tanto e algumas insuportáveis, mesmo para registrar a fala do Professor. Estas continham material intricado e incompreensível mesmo para usar só para as provas. Recorrer à biblioteca não era a solução, pois não sabia nem mesmo como. Foi nomeada uma bibliotecária formada, D. Dina Maria Bueno Moretti, mas continuei ausente. Quanto eu perdi!

Depois de formado fui convidado a trabalhar em uma nova instituição “Instituto Zimotécnico” que iniciou suas atividades por montar uma esmeralda Biblioteca, adquirindo livros e coleções de periódicos técnicos e científicos pertinentes. Acompanhei sua montagem aprendendo passo a passo a importância dessas aquisições e aprendi com duas fantásticas bibliotecárias, Lilia Guerrini Sega e Maria Helena Muus, o que era o sistema de classificação Dewey, como distribuir as obras nas prateleiras, como cuidar delas e com meu Diretor, Prof. Jayme Rocha de Almeida, como usá-las, como extrair delas o conhecimento que continham e que aperfeiçoavam minhas atividades, como escrever, montar artigos, pareceres e a difundir o que aprendia.

Hoje a Biblioteca da ESALQ, riquíssima em informações profissionais conta com um grupo de funcionários exemplares que praticamente tomam um consulente pela mão e o guiam pelos livros facilitando-lhe encontrar o assunto, como examiná-lo e tirar dele o melhor. A Biblioteca conta com o apoio de bibliotecárias atenciosas e muito competentes, e de pessoal auxiliar especializado e altamente interessado em evoluir, conservar o acervo, orientar e dar apoio total ao consulente. Com a máxima boa vontade e competência trabalham com amor para manter a Biblioteca com um elevado grau de excelência, para ensinar, auxiliar nas pesquisas, na confecção de teses e no ensino dos recursos tecnológicos mais modernos na área de comunicação e transmissão de conhecimentos. É inestimável o apoio aos docentes, discentes, pesquisadores daqui e alhures e outros interessados no crescimento técnico e científico.

Ingressante, conheça e aproveite dos conhecimentos armazenados na Biblioteca, e desfrute do desvelo dos funcionários de todos os níveis hierárquicos da Biblioteca. Se você, ao formar em qualquer dos cursos oferecidos pela ESALQ, tiver conseguido usufruir e guardar 5% de tudo o que a Biblioteca lhe oferece, sua vida profissional terá começado com imensas vantagens de sucesso.