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quarta-feira, 26 de outubro de 2022

Eugene Davemport, professor do Michigan Agricultural College, contratado por Luiz Vicente de Souza Queiroz para assessorá-lo na concepção e na implantação da Escola Agrícola Prática de Piracicaba em 1891 | Parte 2: Eugene Davenport

 

Brasil em meados de 1900.


Eugene Davenport

Eugene Davenport nasceu em 1856 em Michigan, numa fazenda de produção de madeira que administrou e onde passou a maior parte de sua vida.

Filho de uma família de princípios rígidos, ele foi sempre respeitado por sua probidade, senso de justiça, e repetia sempre a afirmação de sua mãe de que "é preciso agir corretamente, porque é certo fazer aquilo que é certo"

Acadêmico do "Michigan Agricultural College", ele trabalhou duro, pelo menos três horas diárias na fazenda da faculdade da qual, tanto que após formar-se, foi escolhido como superintendente da mesma e contratado também como professor de sua antiga escola, onde lecionou por sete anos na cadeira de agricultura prática.

Em 1891, convidado por Luiz de Queiroz para colaborar na criação e posterior direção de uma escola de Agricultura, para a qual tinha adquirido em leilão a fazenda "São João da Montanha", Eugene Davenport viaja para o Brasil acompanhado por seus pais e por sua esposa, Emma. Seu transporte é um navio que para em vários portos do Caribe, oportunidade para o viajante registrar suas primeiras impressões sobre Belém, Pernambuco, Salvador, Rio de Janeiro e, posteriormente, seu caminho se estende a São Paulo e finalmente a Piracicaba.

De volta em abril de 1892, aproveita para visitar a Inglaterra e o Alasca, e em 1895 assume a posição de deão do "College of Agriculture" da Universidade de Illinois, cargo que acumula com o de diretor da Estação Experimental de Agricultura.

A obra de Davenport inclui uma autobiografia "Son of the Timberlands", publicada em 1925 pela "Country Gentleman" e uma coluna no "Prairie Farmer'.

Davenport é lembrado pelo seu trabalho no desenvolvimento da pesquisa científica na Faculdade de Agricultura, mas o que lhe deu maior satisfação foi o reconhecimento, pelo Estado de Illinois, da Agricultura como uma verdadeira vocação e a conseqùente integração do estudo agrícola no sistema público de ensino. Ele sempre foi um defensor da educação como um preparo efetivo do estudante para o mercado de trabalho.

Apesar do problema de ser quase indecifrável sua escrita à mão, os trabalhos de Davenport sempre externaram idéias muito claras e vívidas sobre variados assuntos, mas principalmente médicos científicos de cultivo e de criação de gado, imigração, reminiscências e filosofia moral.

Davenport foi sempre muito devotado a sua mulher, que também escreveu sobre suas experiências e impressões do Brasil e do Alasca e entre os documentos guardados na biblioteca da "University of Illinois", há um grosso manuscrito autobiográfico chamado "What onde life has seen".

Entre as obras publicadas de Eugene Davenport contam-se "Education for Efficiency', de 1909, "Domesticated Animals and Plants", de 1910, "Vacation on the Trail", de 1923, "The Farm", de 1927 e "Timberland Times*, de 1935. Ele faleceu em 1941.

Arquivos da Universidade de Illinois. series gravadas 1 de agosto de 1921, papeis de Eugéne Davemport, caixa 4.


Vamos ao Brasil

O assunto veio à tona acho que em agosto, ficou acertado em setembro e em 15 de outubro de 1891 nosso pequeno grupo de quatro: Papai, Mamãe, Emma e eu, pegamos um trem de Woodland com destino aos trópicos. Em 17 de outubro, no "Advance", uma boa embarcação sob comando do capitão Crossman, soltamos velas em de Nova York.

O "Advance" era um navio pequeno, 2.600 toneladas, 325 pés de comprimento, extremamente digno de confiança no mar, como os eventos posteriores viriam a provar. Simples, mas confortável, e extremamente bem comandado, tudo que se podia desejar para uma viagem que duraria um mês inteiro, cobrindo 5.000 milhas de Nova York ao Rio de Janeiro.

A nau levou 20 passageiros, incluindo a filha do Capitão que se provou ser uma jovem encantadora.


A viagem

Leve como estava o navio no início, aportamos em Newport News para embarcar 10.000 barris de farinha que se constituíram em excelente lastro. Na primeira noite balançamos para lá e para cá um bocado, mas a farinha estabilizou a linha d'água aproximadamente quatro pés mais baixo, o que ajudou a velejar com extrema qualidade.

Passando por Hatteras, notei o Capitão parado e tenso a estibordo da nau, examinando uma linha baixa de nuvens em alto mar. "Mau tempo daquele lado, Capitão?" , perguntei. "Vamos ter e muito, antes do amanhecer" disse ele, e a afirmação provou ser uma excelente profecia. O navio balançava forte, pondo todos os passageiros na lista de mareados, até mesmo dentro das cabines. E quando o leme saiu fora d'água, chacoalhou toda a parte da popa e quando atingiu a água novamente, elevou violentamente tudo e todos. Tínhamos sido atingidos pelo furacão West Índia.

Tínhamos lido sobre ondas da altura de montanhas e vimos quadros de ondas grandes se curvando sobre barcos, mas ambos são absurdos e inverdades. Ondas não atingem alturas de montanhas e o único lugar que elas fazem uma grande curvatura é na praia, quando a parte debaixo da onda atinge o fundo, em águas rasas.

Em uma tempestade forte o oceano parece ser um país montanhoso, exceto que as colinas estão em movimento e geralmente com uma enorme, profunda depressão entre elas. Depois de dois ou três dias de ventos, as águas transformaram-se em longas series de vagalhões, três ou mais em uma milha.

No seu estágio inicial de ventos fortes a embarcação mergulhava das cristas às profundezas, conforme o casco descia arremessando com frequência algumas toneladas de água para cima. Eu cheguei a ver grandes massas de água desprender-se e passar por cima da embarcação, para cair no mar a alguma distancia atrás da popa.

Mesmo em águas turbulentas ou entre vagalhões, a embarcação deve se manter razoavelmente fora da base das ondas ou será despedaçada por toneladas de água que cada onda traz com forte impacto.

Nossa primeira parada foi em Saint Tomas, onde 500 toneladas de carvão foram embarcadas nas cabeças de homens e mulheres negros, 80 libras-peso cada cesto, por cada um dos quais eles recebiam um centavo inglês. Estava escuro e a doca era iluminada por carvão acondicionado em cestos de ferro, dando um tipo de brilho bruxuleante e lúgubre, como se tivéssemos entrado em regiões do Inferno.


REFERÊNCIAS

DAVEMPORT, E. Memórias. [S.l: s.n.], [2017?]. 54 p. (University of Illinois Archives Record Series, 8-1-21; Eugene Davemport Paper Box, 4).


Na semana que continuaremos narrando a viagem ao Brasil para colaborar na criação e direção de uma escola de agricultura na Fazenda São João da Montanha. 


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