Pesquisar neste blog

quarta-feira, 23 de março de 2022

Ermelinda Ottoni de Souza Queiroz

 


No artigo "O pioneirismo em Piracicaba" (09/01/2022, p. 4), a escritora Myria Machado Botelho relata recortes da vida de dois pioneiros que, à frente de seu tempo, deixam marcas de empreendedorismo na segunda metade do século XIX (Luiz Vicente de Souza Queiroz) e primeira metade do século XX (Maria Thereza de Moraes Silveira / Dona Therezinha).

Em seu parágrafo final, registra que "Alicerçada sobre forte tradição cultural, Piracicaba abrigou em seu seio numerosos expoentes, cujos nomes se projetaram e que, não sem motivo, a fizeram conhecida como "Atenas Paulista" e "Cidade das Escolas". Neste caso, vem à lembrança Ermelinda Ottoni de Souza Queiroz, esposa de Luiz de Queiroz.

No município, pouquíssimas pessoas ouviram falar de Dona Ermelinda e, mesmo dentro do Campus, poucos tem ciência da participação que exerceu em diversas ações pioneiras e empreendedoras de Luiz de Queiroz.

Na 64ª Semana Luiz de Queiroz (04 a 09/10/2021) ocorreu no dia 04 (2ª feira) a inauguração do Espaço Cultural 'Ermelinda Ottoni de Souza Queiroz', localizado no Jardim Francês, no entorno do Museu e Centro de Ciências, Educação e Artes 'Luiz de Queiroz', com a instalação de um gazebo que acolhe a estátua, em tamanho natural, "personificada em trajes da época e trazendo em suas mãos um missário, pois era uma pessoa muito benemérita e de fé".

Quem foi Ermelinda Ottoni de Souza Queiroz? Alguns lembrarão que foi esposa de Luiz de Queiroz, mas poucos sabem da importância de sua atuação na idealização e instalação da escola, após a morte de Luiz de Queiroz aos 49 anos, em 11/06/1898. A inauguração desta se efetua três anos depois, em 03/06/2001.

Uma busca bibliográfica (Pioneiros e Empreendedores, volume 2/2009, autoria do Prof. Jacques Marcovitch) registra que "Ermelinda, quando jovem, viajou com os pais Cristiano Ottoni e Bárbara de Barros Ottoni pela Europa, Estados Unidos e Ásia. Após seu casamento em 1880 com Luiz de Queiroz, continuou viajando para o exterior para visitar a irmã em Paris... "Ela também se dedicava aos empreendimentos e participava de reuniões de negócios com o marido. Entre seus legados conjuntos com o esposo estão a usina elétrica, a fábrica de tecidos e a Escola". A imprensa local comparava Ermelinda como uma das três mulheres de destaque de Piracicaba, em conjunto à americana Miss Martha Watts e à professora e médica belga Jeanne Renotte". Concluindo: uma mulher culta, poliglota e cosmopolita.

Em aula proferida no Curso de Atualização em Pioneirismo e Educadores Empreendedores / Palácio dos Campos Elíseos - SP, atividade complementar da Exposição Pioneiros & Empreendedores, a Profa. Marly Therezinha G. Perencin, estudiosa da história e memória da ESALQ, relata sobre o importante papel desempenhado por Ermelinda Ottoni de Souza Queiroz na realização do projeto da instituição que se tornaria a ESALQ. "Filha do conselheiro do Império Cristiano Ottoni, era uma figura à frente de seu tempo... Numa época em que as mulheres se escondiam em casa e ficavam dois passos atrás do marido na rua, dona Ermelinda andava lado a lado com o esposo e lhe dava apoio nos negócios, comportamento chocante para a sociedade piracicabana na época... Com um temperamento independente, dedicada aos seus empreendimentos, ela participava de reuniões de negócios com o marido mostrando-se austera, perspicaz e determinada, atributos arrojados perante a época em que viveu".

Fico imaginando como a sociedade patriarcal e conservadora prevalecente em boa parte de sua vida (nascimento em 21/03/1856 e morte em 07/04/1936, 80 anos completos) reagia diante desta decidida, resiliente e empoderada empreendedora, focada no alcance, efetivação e realização dos sonhos de seu marido.

Um parêntese: Os restos mortais do casal foram transladados para a ESALQ em 16/04/1964, estando defronte ao Prédio Central no Mausoléu que registra na lápide "A Luiz Vicente de Souza Queiroz, o Teu Monumento é a Tua Escola".

A expressão "Atrás de um grande homem, sempre tem uma grande mulher" perde sentido quando se conhece a trajetória de vida de Ermelinda Ottoni de Souza Queiroz, podendo-se afirmar que: "Ao lado de um grande homem empreendedor, sempre tem uma grande, empreendedora e empoderada mulher".

------------------------------

Obs. Publicado na Gazeta de Piracicaba, Ano XIX, n. 4731, 14/01/2022, p.2 (Opinião)


terça-feira, 22 de março de 2022

Biblioteca da Esalq: eu recomendo! - Depoimento do Professor Urgel de Almeida Lima

 


Dina Moretti, primeira bibliotecária de formação a trabalhar na Esalq.

1947! Eu era ingressante, vindo de uma escola de ensino médio que possuía uma biblioteca, mas na qual eu nunca entrara. Ao entrar na ESALQ, a biblioteca se afigurava com imenso depósito de livros que continha misteriosos conhecimentos fora de meu alcance. Mesmo conhecendo o Bibliotecário, Engenheiro Agrônomo Renato Bartholomeu, sempre gentil e prestativo, aquele enorme número de livros me assustava, pois não conseguia saber que benefícios dele tirar.

A biblioteca não atraia minha atenção, que estava voltada totalmente às palavras dos Mestres; eu era taquígrafo, registrava de 85 a 90% do que eles diziam em aula pelas minhas notas eu estudava, diretamente sem tradução. Não me passava à mente, complementar as aulas com material impresso os livros. Havia aulas empolgantes, outras nem tanto e algumas insuportáveis, mesmo para registrar a fala do Professor. Estas continham material intricado e incompreensível mesmo para usar só para as provas. Recorrer à biblioteca não era a solução, pois não sabia nem mesmo como. Foi nomeada uma bibliotecária formada, D. Dina Maria Bueno Moretti, mas continuei ausente. Quanto eu perdi!

Depois de formado fui convidado a trabalhar em uma nova instituição “Instituto Zimotécnico” que iniciou suas atividades por montar uma esmeralda Biblioteca, adquirindo livros e coleções de periódicos técnicos e científicos pertinentes. Acompanhei sua montagem aprendendo passo a passo a importância dessas aquisições e aprendi com duas fantásticas bibliotecárias, Lilia Guerrini Sega e Maria Helena Muus, o que era o sistema de classificação Dewey, como distribuir as obras nas prateleiras, como cuidar delas e com meu Diretor, Prof. Jayme Rocha de Almeida, como usá-las, como extrair delas o conhecimento que continham e que aperfeiçoavam minhas atividades, como escrever, montar artigos, pareceres e a difundir o que aprendia.

Hoje a Biblioteca da ESALQ, riquíssima em informações profissionais conta com um grupo de funcionários exemplares que praticamente tomam um consulente pela mão e o guiam pelos livros facilitando-lhe encontrar o assunto, como examiná-lo e tirar dele o melhor. A Biblioteca conta com o apoio de bibliotecárias atenciosas e muito competentes, e de pessoal auxiliar especializado e altamente interessado em evoluir, conservar o acervo, orientar e dar apoio total ao consulente. Com a máxima boa vontade e competência trabalham com amor para manter a Biblioteca com um elevado grau de excelência, para ensinar, auxiliar nas pesquisas, na confecção de teses e no ensino dos recursos tecnológicos mais modernos na área de comunicação e transmissão de conhecimentos. É inestimável o apoio aos docentes, discentes, pesquisadores daqui e alhures e outros interessados no crescimento técnico e científico.

Ingressante, conheça e aproveite dos conhecimentos armazenados na Biblioteca, e desfrute do desvelo dos funcionários de todos os níveis hierárquicos da Biblioteca. Se você, ao formar em qualquer dos cursos oferecidos pela ESALQ, tiver conseguido usufruir e guardar 5% de tudo o que a Biblioteca lhe oferece, sua vida profissional terá começado com imensas vantagens de sucesso.