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quarta-feira, 1 de dezembro de 2021

Por que publicar um artigo científico?

 


Um artigo científico é um tipo de texto acadêmico onde você escreve a sua pesquisa de forma estruturada. O artigo científico é o produto da sua pós-graduação deixado como legado para a ciência. Se não publicar o seu trabalho, você pode não conseguir o seu título de doutorado ou mestrado.

Você que é mestrando(a) ou doutorando(a), frequentemente se sente cobrado ou cobrada a publicar artigos científicos e não entende o porquê disso? Continue lendo esse post, onde vou te mostrar todos os lados desse mercado de publicação.

 

1. O que é e como escrever um artigo científico?

Um artigo científico é um tipo de texto acadêmico onde você irá escrever o que foi feito na sua pesquisa.

Para isso, é preciso ter um título, que dará ao leitor o entendimento sobre de que o seu artigo se trata.

Depois é preciso escrever quais foram as pessoas que fizeram parte dessa pesquisa.

A próxima seção que deve ser escrita é o resumo. O ideal é escrever o resumo depois que finalizar o artigo, pois você terá uma visão ampla do trabalho.

No resumo é preciso escrever uma breve introdução apresentando o problema que a pesquisa resolve, depois qual foi o objetivo geral do trabalho, quais métodos usou, os principais resultados e a conclusão que na verdade é uma resposta ao objetivo.

A próxima seção do artigo é a introdução, que deve ser entre uma e duas páginas. Nesta seção você deve descrever qual é o problema que a sua pesquisa resolve e o impacto que ele tem. Por que esse problema precisa ser estudado? O que falta de estudos nessa área? Qual o propósito da sua pesquisa? Finalize a introdução com o objetivo, ou seja, qual a pretensão em realizar essa pesquisa.

A próxima seção é a metodologia onde é preciso descrever exatamente tudo que foi feito para alcançar os resultados da pesquisa.

Se a revista permitir, escreva a seção de resultados e discussão de forma conjunta, não esqueça de comparar o seu resultado com outros estudos.

Por fim, escreva a conclusão, que não precisa ser longa e deve conter uma resposta ao objetivo e perspectivas do trabalho.

Na sequência vem referências, agradecimentos, onde você agradece as agências de fomento e/ou pesquisadores que ajudaram no projeto, mas que foi uma ajuda que não justificou ele entrar como autor, por exemplo, quando apenas emprestou o equipamento e não ajudou na escrita do artigo.

Algumas revistas pedem a seção de contribuições dos autores, onde é necessário escrever as iniciais de cada autor e exatamente o que ele fez no artigo.

Essa é uma excelente forma de justificar o número de autores no trabalho. Ou seja, só deve entrar, quem realmente ajudou.


2. Como definir a sequência de autores?

Aqui vou abrir um parêntese para compartilhar algo interessante que aconteceu comigo, para que você entenda a minha opinião sobre esse ponto.

Como você deve saber, eu fiz um ano do meu doutorado nos Estados Unidos e lá eu aprendi com o meu supervisor, que a ordem dos autores deve ser definida pela ordem de quem mais escreveu no texto.

Para você ter uma ideia, a gente contava o número de palavras que cada autor tinha escrito para definir quem seria o autor principal.

Eu acho essa forma fantástica, simplesmente porque é uma estratégia justa e correta. A gente aprende nas disciplinas de metodologia científica na pós-graduação, que só deve entrar no artigo, quem ajudou no processo de escrita.

Infelizmente, aqui no Brasil, não é feito exatamente dessa forma. Normalmente quem define a autoria do artigo e em que ordem os autores serão alocados, é o orientador. O que nem sempre é justo, pois acontece de pessoas que não ajudaram efetivamente na escrita do trabalho, entrarem como autor. Fecha parêntese.

Outra dúvida comum dos alunos é se a posição de primeiro autor, pode ser compartilhada por um segundo e quiçá um terceiro autor que igualmente colaborou no processo de escrita.

Pode sim, para tal, você coloca um asterisco no nome desses autores e escreve a seguinte sentença: ” *These authors contributed equally to this work.”


3. Quantas páginas deve ter um artigo?

Se esse é o primeiro artigo que você vai escrever, pode ficar pensando… quantas páginas um artigo deve ter?

Meus alunos sempre me perguntam isso.

Não existe um número limite de páginas.

Tradicionalmente os artigos são bem sucintos e diretos, ou seja, contam a história que deve ser dita e acabou.

Quando a revista diagrama o seu artigo, aquele manuscrito que tinha por exemplo, 35 páginas, só fica com 17.

Porque eles colocam no formato, usam fonte de letra menor e etc.

Agora uma coisa que é preciso ficar atento(a) é nas normas da revista… cada revista tem uma norma específica e alguns periódicos (=revista) limitam o número de páginas do artigo, por isso, nunca escreva, sem olhar as intruções da revista que pretende submeter, para já fazer tudo nas normas e não ter dor de cabeça e trabalho dobrado depois.


4. Por que publicar um artigo científico?

Se você é aquele(a) aluno(a) que já está mega cansado(a), com tudo dando errado, pensando em desistir, com certeza se faz essa pergunta todo dia.

Primeiro eu digo: força na peruca, pede ajuda aos universitários e vamos lá, juntos somos mais fortes. Aguente firme que jajá passa, no final dá tudo certo e só sobram as boas recordações.

Agora respondendo a pergunta: Se você não publicar a sua pesquisa, que tanto deu trabalho para ser executada, dificilmente alguém saberá que esse estudo foi feito.

Consequentemente ninguém usará a sua descoberta como base para futuras pesquisas e assim você não terá contribuído para construção de conhecimento que gera produtos para a sociedade.

Percebe a importância que o seu estudo tem?

O conhecimento científico é como se fosse um quebra-cabeça, você junta uma peça dali, outra daqui e chega a um produto diferente.

Imagine o que seria de nós, se os pesquisadores não trabalhassem incansavelmente pelo desenvolvimento de vacinas que garantem a nossa sobrevivência?

Estaríamos mortos.

E sempre tem artigo novo sobre algum tipo de vacina.

Esse é o lado bonito de publicar um artigo, disseminar as descobertas científicas.

Mas tem o outro lado…

Aqui no Brasil, você só defende o doutorado, se tiver artigo publicado. Essa não é uma realidade em todos os países do mundo.

E quando essa exigência existe, não há a métrica do qualis, que é uma medida inventada pelo Brasil, mas que facilmente poderia ser resolvida pelo fator de impacto, como se faz no resto do mundo.


5. Por que os professores precisam que os seus alunos publiquem?

Além da contribuição para a ciência e obrigatoriedade pelo programa de pós-graduação, seu (sua) orientador(a), fica toda hora te cobrando o artigo. E sabe por quê?

Porque ele só orienta no programa de pós-graduação e aprova projetos de pesquisa para arrecadar fundos e manter o grupo de pesquisa se mantiver a produtividade, que é medida atualmente pelo número de artigos que ele tem com o aluno.

Antigamente a métrica era baseada em número de publicações, foi aí que cresceram as parcerias entre os diferentes grupos de pesquisas e instituições e o aluno nem sempre era lembrado nos artigos.

Além disso, o programa só sobe de conceito/nota na CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), se tiver alta produtividade e internacionalização (quando há intercâmbio entre alunos de diversos países).

Quanto maior a nota do programa, mais recurso ele recebe para investir em pesquisa.

Percebe como esse é um círculo vicioso e que cada um de nós é uma pedra nesse dominó?

No final das contas, todos precisam uns dos outros, por isso a relação poderia ser mais saudável. Ao invés de ser tão baseada em cobrança, que só adoece e desestimula o aluno. E isso muitas vezes acontece, porque o aluno não entende as razões que estão envolvidas naquela cobrança absurda e na importância de publicar o seu trabalho.

Claro que quanto mais publicação você tiver, isso pode aumentar as suas chances em futuras oportunidades em um concurso, por exemplo, mas não é só isso.

Antes do seu currículo ser avaliado, é preciso passar em uma prova escrita … se você tiver muitos artigos, talvez nem todos sejam pontuados, a depender do barema, ou talvez nem chegue na etapa de análise de currículo.

Por isso, é preciso entender como o sistema funciona e traçar suas próprias estratégias. Dessa forma, você consegue caminhar menos estressado(a) e mais consciente nesse meio da pós-graduação.


6. Por que publicar artigos em inglês?

Grande parte das revistas de maior fator de impacto, ou seja, aquelas que são mais citadas e de maior renome são internacionais.

Os melhores resultados da ciência são publicados nessas revistas.

Porque a língua internacional da ciência é inglês.

Por isso que existe essa pressão para que se publique em inglês.

Inclusive muitas revistas brasileiras já estão incentivando a publicação em inglês dos artigos científicos, como uma forma de aumentar a visibilidade dos trabalhos publicados aqui.


7. Qual o lado negativo das publicações?

Mas visibilidade para quem?

O fato dos artigos serem publicados em inglês limita o público de leitores.

Para a gente ter ideia, muitos pesquisadores tem dificuldade com a língua, imagine se um leigo, como nossos pais ou avós, irão ter acesso a esses trabalhos?

Dificilmente esses trabalhos são de acesso da população. Até porque em muitos casos são publicados e mantidos em bases de dados pagas que limitam o acesso.

Sem contar que alguns desses artigos, para não dizer a maioria, são publicados em revistas que cobram valores altíssimos.

Por isso que logo no início desse post, chamei essa prática de mercado de publicações, onde só as grandes editoras ganham.

Pois os autores pagam para publicar, esse dinheiro pode vir de projetos ou do bolso dos pesquisadores.

Os avaliadores (também chamados de revisores ou referees) são voluntários, que não recebem nada por isso. Apenas um e-mail de agradecimento que serve de comprovante que você atuou como revisor(a) e que pode ser pontuado no currículo.

Essa prática de pagar para publicar limita grupos de pesquisa pequenos com poucos recursos.


Resumindo…

Execute sua pesquisa, publique o trabalho na melhor revista que você conseguir. Faça isso dentro de um planejamento próprio, saiba quantos artigos você precisa para atingir os seus objetivos e trace uma estratégia.

Lembre-se que o processo de uma publicação é demorado, então é importante estabelecer parcerias, inclusive com seus colegas da pós-graduação, para fazer isso fluir de forma mais rápida e efetiva.

Usufrua de tudo que você puder na pós-graduação, que por mais que seja um momento difícil, ele não volta.

Ignore o que for de negativo e plante todos os frutos que você precisa colher no futuro.

E lembre-se, estou sempre aqui para ajudar na escrita dos seus artigos =)


Repost de Blog.SejaPhD.com | Dra. paula Menezes | http://blog.sejaphd.com/por-que-publicar-um-artigo-cientifico/